Teatro do
Absurdo 7
Alice é apaixonada pelo vento, vê Pastor de Andrade no palco
falando sozinho e percebe que é sobre ela.
Alice - é
sobre mim que está falando!? risos...
Pastor de
Andrade - sim!
Alice - como
sabe?
Pastor de
Andrade - sou bruxo, percebo as coisas com rapidez
Alice - não
pode, nem nos conhecemos direito, só nos vimos uma vez, e como já sabe como
estou?
Pastor de
Andrade - fácil, está na cara!
Alice - (olha
no espelho), na cara não, está aqui dentro! (coloca as mãos na barriga)
Pastor de
Andrade - o que você anda lendo?
Alice -
Federico Baudelaire! quem mais eu poderia ler nesses tempos de Invasão?
Pastor de
Andrade - só podia ser, e vai me dizer que é a Invasão Cibernética em
MartiNÓPolis?
Alice - esse
livro mesmo, e o que uma coisa tem a ver com outra?
Pastor de
Andrade - Nada. Mas só te digo uma coisa: tome cuidado com o que anda
lendo!
Alice - Ah!
Pastor, já cansei de tomar cuidados, e quando eu tomava cuidados não acontecia
nada, agora que não me preocupo e não tomo cuidados, aconteceu
Pastor de
Andrade - e você acha certo?
Alice - eu
quero ir pro cinema, e nem quero saber do que pode dar certo. Só queria
que ele não fosse tão forte e não
passasse tão ligeiro!
Pastor de
Andrade - (falando sozinho outra vez). Não. não é possível. se ele
vem daquele lado, ela vai pra lá. Se e vai praquele lado, ela vem prá cá. Não
pode ser o que estou pensando.
Alice - você
poderia falar para eu ouvir
Pastor de
Andrade - deixa pra lá!
Alice - Acho
que a Mocidade Independente de Padre Olivácio está te deixando maluco!
Pastor de
Andrade - você sabe muito bem
que o maluco aqui não sou eu não
Alice - quando
ele chega, toda vez que vem, me pega pelo corpo inteiro, me sacode me levanta,
me levita!
Pastor de
Andrade - (coloca as mãos na testa de Alice). Está com febre. Lembra
que Mário de Andrade escreveu Macunaíma numa semana de febre, você ao invés de
ficar lendo Federico Baudelaire, porque não escreve também? Vai ver aliviaria a
febre e voltava ao seu estado normal.
Alice - Mas eu
estou normal, você é que fica imaginando coisas, só porque eu quero
segurar pelas mãos o que sinto e sair
por aí, sem destino, estrada sem volta. Ah! como eu gostaria que ele me levasse
...
Pastor de
Andrade - para o cinema?
Alice - para
qualquer lugar, para o mar, para o cinema, para o olho do furacão, onde eu
pudesse me completar de vez!
Pastor de
Andrade - olha! é assim que a loucura começa!
Alice - Mas em
mim é lucidez!
Pastor de
Andrade - Não acho que seja, acho até que estás possuída.
Alice - isso
ainda não, e como eu queria! Dançar na chuva, numa noite eterna, até o dia
nunca mais amanhecer!
Pastor de Andrade - me dá licença, porque
daqui a pouco essa febre pode me pegar também e eu não vou saber como curar.
Fulinaíma MultiProjetos
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