A Nossa
Casa É Um Teatro
Cena 3 - O questionamento
Luisa - Não
sei de onde veio essa Anastácia. E por quê
será que ela está morando aqui?
Sofia - Ainda
mais que agora se convenceu que é Professora de História
Lara - Será
que é nossa parente. É só pode ser, para morar na nessa casa só pode ser da
nossa família!
Cry Baby - A
minha mãe apaga a luz para eu dormir, e meu pai só vai dormir depois que a
minha mãe apaga a luz, e com aquelas fotos todas do Flamengo na parede do
corredor. quem sabe?
Cristal - Eu que
não ponho a minha mão no fogo. Mas só quem pode nos responder mesmo é ela.
Mellanie - Mas ela
não vai falar mesmo. Apareceu aqui por aquela porta. E não disse mais nada. Só
que é professora de história.
Larissa - Mas
que pode afirmar que é professora de história mesmo?
Mel - Estou achando
que é golpe dela. Temos que ficar de olho
Max - Vocês já
viram como ela fala estranho. Acho que ela não é daqui de São Francisco
Julia -
Não. daqui acho que é sim, esses dias encontrei
com ela fazendo compras no supermercado
Luisa - Mas
isso é ela quem diz. Quem pode provar que ela é mesmo?
Sofia - Eu não
s sei de nada. Só sei que na parede do corredor tem umas fotos bem estranhas.
Vocês já prestaram atenção em quem está atrás do meu pai naquela foto?
Cray Baby - Sabe
que eu nunca tinha prestado atenção nisso.
Cristal - É por
isso que eu acho que essa Anastácia tem um mistério e ela não quer nos contar.
Mel - Mas
porque que ao invés de ficarmos discutindo aqui agente não pesquisa a vida
dela?
Max - Vamos
no google, e colocamos Anastácia
professora de história pra ver se descobrimos algo.
Julia - Tive uma ideia porque não pesquisamos aqui na Escola
mesmo? Quem sabe ela não é uma impostora se passando por professora de
história?
Mellanie - Então
só temos uma saída vamos perguntar a ela, por quê? e como ela veio parar aqui.
Teatro do
Absurdo
cena para um casal de atores.
Vagner -
Clarice!
Clarice - o que é
Vagner
Vagner - o que
tanto lê aí nesse estranho livro?
Clarice - é
sobre a possibilidade de uma invasão cibernética que vai acontecer em 2022
Vagner - Pirou?
Clarice - não é o
que o cientista está dizendo aqui?
Vagner - qual é
o nome dele?
Clarice -
Federico Baudelaire
Vagner - claro
só podia ser ele , esse cara é louco!
Clarice -
mas o que ele está dizendo aqui tem
lógica
Vagner - bebeu?
Clarice - Água
Vagner - pelo
jeito acho que não foi água não
Clarice - está
duvidando de mim?
Vagner - claro
que duvido. nem te conheço direito, e você passa o tempo todo enfiada nesse
livro, escrito por um maluco, que acha que vamos ter invasão cibernética, como
não vou duvidar?
Clarice - mas
você devia acreditar, tudo leva a crer que esta invasão pode acontecer mesmo.
Vagner - Só
porque você quer. acho que seus neurônios já não estão funcionando muito bem
não.
Clarice - você é
um ateu não acredita em nada
Vagner - eu
acredito em muita coisa, mas não posso acreditar num absurdo desses
Clarice - só
porque é cego
Vagner - se
fosse cego não estaria te vendo aí.
Clarice - como
está me vendo?
Vagner - com os
olhos
Clarice - não foi
isso que perguntei
Vagner - como
perguntou então?
Clarice - de que
maneira está me vendo, feia, bonita, linda, elegante.
Vagner - não tem
espelho não?
Clarice - mal
educado!
Vagner - não se
trata de educação, é uma questão de ponto de vista.
Clarice - mas não
respondeu minha pergunta!
Vagner - você
se acha!
Clarice - há
muito tempo, desde que me olhei a primeira vez no espelho
Vagner - deve
ser por isso que acredita em invasão cibernética
Clarice - Vamos
mudar de assunto, porque já está m torrando o saco essa sua conversa
Vagner - mudar
pra quê?
Clarice - vou
tomar um banho para ir ao super mercado
Vagner - quanta
vaidade! precisa tomar banho para ir ao super mercado?
Clarice - questão
de higiene meu caro!
Vagner - boa
viagem...
Clarice sai e deixa Vagner falando sozinho...
Teatro do Absurdo 10
cena para 3 atores numa discussão Absurda sobre os fenômenos
naturais que acontecem no momento
Dalmo - vocês
viram o que aconteceu ontem em Martinópolis?
Dagoberto -
primeiro me explica onde é essa tal de Martinópolis
Edmilson
- aí
complicou Dagoberto, porque a coisa mais difícil é Dalmo explicar alguma coisa
e nos fazer entender a sua explicação
Dalmo - nem
vem Edmilson, porque quando eu digo haicai vocês entendem Hai-sobe porque querem. Eu só estou querendo saber se
vocês sabem o que aconteceu ontem
Dagoberto - ontem
aconteceram tantas coisas
Dalmo - mas
quero saber se vocês sabem o que aconteceu com o vento em Martinópolis
Edmilson -
Se foi no cemitério tenho uma ligeira
impressão que Alê Miranda viu, mas Monica Brandão me disse que não foi bem
assim. Quem pode saber mesmo é a Carol Maggi com precisão.
Dagoberto - tinha
uma fotografia no jornal de Ribeirão mas não dava pra ver direito a impressão
estava muito imprecisa
Dalmo - mas
não desviem o assunto para outro rumo, porque não foi nada disso que perguntei,
afinal Martinópolis, é uma pequena mistura de Marte com Jardinópolis ou não é?
Edmilson - o
vento tirou o disco voador do lugar?
Dagoberto
-
não foi bem assim. dizem que só Newton Reis seria capaz de explicar, de que lado veio o vento.
Dalmo - se
tirou o disco voador do lugar, não sei bem, mas que fez um estrago na crença
isso fez.
Edmilson - mas o
que tem a ver vento com crença?
Dagoberto - é que
como o disco voador estava na porta do cemitério e agora não está mais, estão
dizendo em Martinópolis que ele veio trazer algumas almas de volta.
Dalmo -
besteira porque o cachorro do Bispo continua comendo a mesma lingüiça que comia
no Bar do Chico
Edmilson - Mas
Bispo que tem cachorro é no Auto da Compadecida
Dagoberto
-
mas em Martinópolis até padre trem
Dalmo - tem
vento ventania missa do purgatório e missa da sacristia, com vento ou sem vento
tudo em Martinópolis gira em torno do mistério da santíssima castidade.
Edmilson - quem
sabe o disco-voador não vira um cata-vento?
Dalmo - não
sei se será possível essas transações científicas por lá não, porque o vento
deu de levantar até telhados de vidro na estrada que liga Martinópolis a
Batatais
Dagoberto - Mas
não foi nada disso que a Juliana me contou sobre a invenção da Vila Reis
Edmilson - Pelo
que soube o vento está levando gente da vila operária direto para os cofres do
disco-voador. E nem foi Elias Jabur que escreveu a última carta que Ricardo
Pereira Lima publicou como vestígios da ventania que passou por Altinópolis
enrolada pelos lençóis de Batatais.
Dalmo - De
|Batatais só me lembro de um homem que era um homem nas barbas de um lobisomem.
Dagoberto - mas
sobre o vento mesmo ninguém decifrou a mensagem cifrada na porta do Baruk
Edmilson - Alê
Miranda me falou que seria um anagrama com multi-possibilidades de significado,
depende do dia e do lado que o vento vem.
Dalmo - mas se
for no dia que o vento ao invés de vir vai?
Dagoberto - não
importa. o vento vem e vai
Edmilson - mas
quando ele vem levanta e quando vai?
Dalmo - abaixa
Dagoberto
-
certo dia em Martinópolis o cachorro do Bispo levantou e não tinha vento algum
Edmilson - eu já
falei que Bispo que tem cachorro é no Auto da Compadecida
Dalmo - mas no
baixo também tem uns ventos que não respeita nada, nem desejo de mulher
grávida.
Dagoberto
-
o do Padre está morrendo de fome, oh!
Padre pão duro!
Edmilson - se
fosse do Major ele dava, mas como é do Capitão ele deixa morrer de fome, como
faz com as pessoas da Vila Reis, que nem vento tem para comer
Dalmo - é,
vento vai e vento vem, e tudo na mesma em Martinópolis, as antenas nos telhados
de quem tem, o disco-voador passeando pra lá e prá cá, o cachorro de Newton
Reis comendo lingüiça no Bar do Chico, e o povo pasmo de boca aberta esperando
a morte chegar.
Edmilson - hóstia não mata fome, nem enche barriga.
vento não dá comida. então vamos deixar o vento, antes que o disco-voador decole e nos leve
para Marte ou traga de Marte um outro Newton Reis com sua lábia de novo, para
distrair o povo com os mistérios do lugar
cena 3 mulheres à beira de um ataque de nervos
Marisa está na ponta de uma mesa olhando para o fundo de
uma caneta vazia como se olhasse no Espelho
Marlise está na
outra ponta da mesa com um prato cheio de carne
Dadete - está
num canto da cozinha com uma vassoura varrendo o chão
Marisa - meu
manto. meu manto! (olhando no fundo da caneta) você viu meu manto meu gato?
Isso é coisa do Saraiva, mim mesma acha que um Bispo do Rosário baixou por aqui
Marlise -
danou-se tem gente que enlouquece e vive falando sozinha
Dadete - ainda
se fosse e falasse a língua dos homens, no Rio Grande estão comendo até
cachorro de Bispo
Marisa - não
sou profeta mas tenho premonições, previ que os chineses iriam descobrir a
pólvora e fabricar papel
Marlise - vai
dizer também que previu que eu iria ser gordinha?
Marisa - Claro
comendo carne desse jeito, não poderia star de outra forma
Dadete - no Rio
Grande come-se até as Dunas
Marisa - ainda
se fosse as do Barato vá lá. Mas comer areai branca ninguém merece
Marlise- eu como
o que posso, e o que não posso deixo pra lá. No outro Rio Grande tem um ditado
que diz que cada um come o que tem.
Dadete- o
corpo, pronto eu como o corpo, e não deixo nada pro vento, as dunas são
testemunhas do quanto eu gosto de comer o corpo
Marisa - mim
mesma não está comendo nada, nem Edmilson na feira de São Cristóvão. Aliás, mim
mesma tem andado de dieta pra lua, só bebe água e cheira vento
Marlise -
cruzes! se eu fizesse isso desmaiava na primeira tempestade de areia.
Dadete- claro,
nunca vi gostar tanto de boi. cuidad0 boi demais pode dar febre suína
Marisa - essa
não Dadete, como comer boi pode dar febre suína?
Dadete - no Rio
Grande nas dunas teve um caso dessa na praia do Peró. A mulher do delegado
comeu um boi e acordou roncando que nem uma porca.
Marlise - No
Arraial do Cabo também aconteceu, porque lá tem a mesma praia do Peró, ecom a
mesma mulher do delegado aconteceu a mesma coisa.
Marisa - bem que
mim mesma previu, que coincidências
acontecem não por meras semelhanças, mas por falta de marido mesmo
Dadete - ô mim
mesma, o que tem uma coisa a ver com falta de marido?
Marisa - Claro
que tem, mim mesma mesmo me disse quando me viu jogada no chão: - quando nasci
um anjo torto veio ler a minha mão!
Marlise - mim
mesma é cartomante!?
Dadete- não ela
joga búzios e lê a sorte em cartas de tarô!
Marisa - nada
disso, mim mesma é chegada a uma borra de café. No fundo da xícara ela lê tudo
o que já aconteceu e o que virá a acontecer com milênios de antecedência
Marlise - e o
vento leva?
Dadete - o
vento sempre me leva pro outro lado, mesmo que eu nem queira atravessar o outro
corpo que me prende nesse lado da cozinha
Marisa - com
mim mesma, é quase assim também, dia desses quero ser uma grande menina de
Londres, para badalar o Big Ben
Marlise -
coitada , tá mais pra menina da Pavuna
Dadete - você
não sabe de nada Marlise. Mim mesma tem uma coisa muito estranha, na outra vez
que nos encontramos em carnaval dos copos, ela me disse que tinha jantado
Ronaldo Werneck na cachaçaria.
Marisa - mas
isso já faz tempo. passou, e me deu um enjôo daquele pensei até que tinha
engravidado!
Marlise - e
Ademir soube disso?
Marisa - Uai! e
porque ele teria de saber?
Dadete - claro
que sim, ele tinha que saber, pois não é ele que te leva pra Cachaçaria?
Marisa - me
leva mas me larga lá entregue a fome, se eu não me virar com o que tem morro de
desejo. Mim mesma sempre me disse: - em momentos como esse não se apavore nem
tenha ataque de nervos, se vira como pode. - eu que não sou besta não deixo o
vento passar despercebido, me agarro em suas crinas e meto os dentes nele.
Marlise- comer vento? coisa de mim mesma mesmo. Não tivesse eu umas carninhas sempre a disposição, minhas gordurinhas desapareciam todas num piscar de olhos.
Dadete - é por
isso que no Rio Grande está desaparecendo
vento. Quando consegue passar por lá mim mesma estraçalha tudo
Marisa - mas
também não é bem assim, tudo tem seu vento certo, e os nervos só se acalmam com
umas dentadas bem dadas no lado esquerdo da tempestade quando a ventania
passa...
- do outro lado da casa ouve-se um grito: Mim mesma! - as 3
mulheres se desfazem num segundo e desaparecem no vento
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