Teatro
MultiLinguagens
cena 7 - Pastor de Andrade exige confissão de
Marisa
Pastor - confessa
Marisa
Marisa - Mas
confessar o quê?
Pastor - confessar
o quê? ainda me pergunta?
Marisa - É claro
como vou saber o que confessar se não sei qual foi o meu pecado!
Pastor - confessa o
nome do vento
Marisa - Uai! eu
não sei, ninguém sabe! como uma mulher do Rio de Janeiro saberia?
Pastor - Não
disfarça mim mesma. Você pode até enganar os outros mas não me engana. Qual o
nome do vento que você anda comendo na Cachaçaria em Bento Gonçalves?
Marisa - Mim mesma
anda muito ocupada para perder tempo em uma Cachaçaria com qualquer vento por aí
Pastor - Não minta
porque Marlise já me confessou em delação premiada que enquanto ela comia
carne, você comia o vento. E ela ainda me disse que era um vento bem gordinho e
descendente de italiano.
Marisa - Gordinho?
Mas de que vento está falando? Ainda mais vento italiano era só o que me
faltava! Marlise anda falando coisas demais.
Pastor - E que tem
até sotaque mineiro
Marisa -
danou-se! Eu não sei do que ela está falando, e tem mais, aquela quantidade de
carne que ela anda comendo deve estar afetando o cérebro dela.
Pastor -
Como você disfarça bem Marisa. Mas o que custa confessar? Vai ficar com a alma
mais leve como uma pluma pairando no ar!
Marisa - Eu apenas
não quero falar sobre o Edmilson uai!
Pastor - Entregou?
então foi ele? Mas o Edmilson não foi na Feira de São Cristóvão? Acho que esse vento
anda trocando de nome igual ao furacão.
Marisa - O vento
para mim mesma pode ter muitos nomes, E daí? não vejo problema algum nisso! O
vento passa muito rápido para dar tempo de lembrar do que eu havia jantado no
passado
Pastor -
E o que está faltando para o vento ter o nome de Pastor de Andrade? Está faltando poesia?
Marisa - Talvez,
quem sabe se tentar desta vez não consiga, mim mesma adora poesia de paixão!
Pastor -
Marisa enquanto você desliza nos braços do vento eu invento vendavais de palha
Zeus é quem me valha e me leva para outros pensamentos porque até agora esse
teu vento não passou de uma grande calmaria
Marisa - Adorei!
Neste
momento o Pastor começa a falar poesias do livro Juras Secretas
Jura secreta 4
a menina dos meus olhos
com os nervos à flor da pele
brinca de bem-me-quer
ela inda pensa que é menina
mas já é quase uma mulher
Jura secreta 6
o que passou não ficará já foi
a menina dos meus olhos
roubou a tua menina
e levou para festa do boi
fosse um Salgado Maranhão
nosso batismo de fogo
25 de março
e o morro querosene em chamas
no canto pro tempo nascer
e o amor que a gente faria
o sol acabou de fazer
Jura secreta 10
fosse o que eu quisesse
apenas uma palavra em tua boca
dentro do poema nada cabe
nem o que sei nem o que não se sabe
e o que não soubesse
do que foi escrito
está cravado em nós
como cicatriz no corte
entre uma palavra e outra
do que não dissesse
Jura Secreta 36
cardio.grafia da pele
que esta palavra bendita
nãos seja dor quando mal dita
como espinha quando aflora
ou espora enquanto irrita
minha cardio.grafia em suma
não é pena nem pluma
apenas palavra que resuma
o silêncio como agora
ou sonora enquanto grita
Jura secreta 56
ainda que fosse viagem
de metrô ou fantasia
e o assunto que eu mais queria
fosse o que não dissesse
e o mar apenas trouxesse
gaivotas sobre os cabelos
vento sol maresia
e o líquido que não bebemos
fosse conhac ou cerveja
mesmo assim a vida seja
entre o que os pelos lateja
o que a tua boca não fala
o que a tua língua não prova
e a prova das dezessete
te levasse mais cedo
inda assim não tenha medo
a palavra entre meus dedos
é o que ainda não disse
miragem essa coisa nova
agora revisitada
naquela hora marcada
de tudo o que não fizemos
Exercício
Cênico criado durante o Curso de Teatro MultiLinguagens realizado no Sinasefe
em Campos com direção de Artur Gomes
Fulinaíma
MultiProjetos
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