quarta-feira, 6 de abril de 2022

Teatro MultiLinguagens

 


Teatro MultiLinguagens

A Invasão Cibernética em MartiNÓpolis

(recital no Baruk)

Dandara e Odara duas bailarinas encontram-se no Baruk Bar em JardiNÓpolis, ouvindo o recital de poesia de EuGênio Mallarmé. Enquanto ele desfolha suas pétalas poéticas quase erótikas as duas conversam entre si, querendo entender quem é a musa inspiradora.

 

EuGênio Mallamé - Dandara tão clara quanto rara jura secreta que desabrocha em flor de lótus, flor de lascio, flor de lírios, flor de cactos, flor/espinho, depois do amor, pedra trans/tornada flor no meio do caminho.

Odara - sou eu

Dandara - quem disse, não ouviu? ele falou Dandara.

EuGênio Mallarmé - beber desse conhac em tua boca, para matar a febre nas entranhas entre/dentes, indecente é a forma que te bebo como ou calo. e se não falo quando quero, na balada ou no bolero, não é por falta de desejo, é que a fome desse beijo furta qualquer outra palavra presa, como caça indefesa dentro da carne que não sai.

Dandara - nunca ouvi poesia assim tão linda, lírica, densa, direta, chega até a me dar um susto!

Odara - Meus Deus! esse cara não existe, fala de uma forma que parece um deus profano, e ao mesmo tempo um anjo delirando

EuGênio Mallarmé - se eu disser te amo, não se assusta: te amar não custa.

o tecido do amor já esgarçamos 
em quantos outubros nos gozamos 
agora que palavro Itaocaras 
e persigo outras ilhas 
na carne crua do teu corpo 
amanheço alfabeto grafitemas 

quantas marés endoidecemos 
e aramaico permaneço doido e lírico 
em tudo mais que me negasse 
flor de lótus flor de cactos flor de lírios 
ou mesmo sexo sendo flor ou faca fosse 
Hilda Hilst quando então se me amasse 

ardendo em nós salgado mar e Olga risse 
olhando em nós flechas de fogo se existisse 
por onde quer que eu te cantasse ou Amavisse 

 Odara - Meu Zeus! ele cita Olga Savary, minha grande paixão - e a minha Hilda Hilst, esse cara vai despetalar a gente!

 

EuGênio Mallarmé -

 a lavra da palavra quero 

quando for pluma 
mesmo sendo espora 

felicidade uma palavra 
onde a lavra explora 
se é saudade dói mas não demora 
e sendo fauna linda como a Flora 
lua Luanda vem não vá embora 

se for poema fogo do desejo 
quando for beijo que seja como agora 

 Odara - Ei EuGênio, você tem a cópia aí, dessa poesia que você fala de Olga Savary?

 EuGênio Mallarmé - tenho, por quê?

 Odara - será que seria demais te pedir?

EuGênio Mallarmé - claro que não, é sua!

 Dandara - se é assim, eu também quero!

 EuGênio Mallarmé - mas só tinha aquela que dei para Odara.

 Dandara - Está bem! Onde vai ser o seu próximo recital?

 EuGênio Mallarmé - aqui mesmo no Baruk depois de amanhã, neste mesmo horário.

 Dandara - estaremos aqui, me prometa que vai trazer uma cópia daquela poesia para mim

 EuGênio Mallarmé - para você eu ofereço todas as minhas Juras Secretas que fazem parte do meu próximo livro.

 Odara - Não diga! eu amo poesia,  quando ouço parece que me transporto para outro universo.

 Dandara - eu nem sei dizer direito o que acontece comigo. só sei que quando ouço, é como se eu estivesse dançando o Lago dos Cisnes!

 EuGênio Mallarmé - vasa sob meus pés um Rio das Ostras  as minhas mãos em conchas passeiam o mangue dos teus seios  e provocam o fluxo do teu sangue  os caranguejos olham admirados  a volúpia dos teus cios  quando me entregas o que traz  por entre as praias  e permites desatar  todos os nós do teu umbigo  transbordando mar de búzios  oceanos - Atlântico pulsar entre dois corpos  que se descobrem peixes -  e mergulham profundezas  qualquer que seja a hora  em que se beijam num pontal em comunhão total com a natureza 

 Odara -  o que te inspira tanto!

 Eugênio Mallarmé - viver!

 Dandara - não é possível, não pode ser só isso, tem referências na sua poesia que se fosse apenas o fato de viver, não teria como criar tantas metáforas.

 Odara - e essas metáforas  as vezes entortam nossas cabeças, nos deixa girando querendo encontrar o rumo para onde você quer nos levar

 Eugênio Mallarmé - mas a minha única intenção é escrever poesia, não há  a mínima pretensão de provocar nada.

 Dandara - Nós estamos indo para a Casa Amarela, você não quer ir com a gente? aproveitamos e conversamos mais. E você nos fala mais como é Viver Poesia!

 Odara - lá sempre tem também algumas pessoas assim como nós trans/formada pela poesia

 Eugênio Mallarmé - sendo assim vamos lá. no desenho da estrada que atravesso tem um corpo adormecido esperando por um beijo. Eu te desenho e você não vê a geografia corporal em cada traço. Eu te coloco dentro do poema e teu corpo treme nas entre linhas do desejo. Desenho teus olhos no espelho e você não vê nas águas o reflexo da alga que brotou no mar sob a luz da madrugada.

 (saem de cena com EuGênio entre as duas)


 Fulinaíma MultiProjetos

www.centrodeartefulinaima.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Itabapoana Pedra Pássaro Poema

estava assim ankara  meio sorocaba meio araraquara perdido entre a turquia stella guanabara mário tinha febre quando inventou macunaíma numa...