Teatro
MultiLinguagens
A Invasão
Cibernética em MartiNÓpolis
(recital no Baruk)
Dandara e Odara duas bailarinas encontram-se no Baruk Bar em
JardiNÓpolis, ouvindo o recital de poesia de EuGênio Mallarmé. Enquanto ele
desfolha suas pétalas poéticas quase erótikas as duas conversam entre si,
querendo entender quem é a musa inspiradora.
EuGênio
Mallamé - Dandara tão clara quanto rara jura secreta que desabrocha
em flor de lótus, flor de lascio, flor de lírios, flor de cactos, flor/espinho,
depois do amor, pedra trans/tornada flor no meio do caminho.
Odara - sou eu
Dandara - quem
disse, não ouviu? ele falou Dandara.
EuGênio
Mallarmé - beber desse conhac em tua boca, para matar a febre nas
entranhas entre/dentes, indecente é a forma que te bebo como ou calo. e se não
falo quando quero, na balada ou no bolero, não é por falta de desejo, é que a
fome desse beijo furta qualquer outra palavra presa, como caça indefesa dentro
da carne que não sai.
Dandara - nunca
ouvi poesia assim tão linda, lírica, densa, direta, chega até a me dar um
susto!
Odara - Meus
Deus! esse cara não existe, fala de uma forma que parece um deus profano, e ao
mesmo tempo um anjo delirando
EuGênio
Mallarmé - se eu disser te amo, não se assusta: te amar não custa.
o tecido do amor já esgarçamos
em quantos outubros nos gozamos
agora que palavro Itaocaras
e persigo outras ilhas
na carne crua do teu corpo
amanheço alfabeto grafitemas
quantas marés endoidecemos
e aramaico permaneço doido e lírico
em tudo mais que me negasse
flor de lótus flor de cactos flor de
lírios
ou mesmo sexo sendo flor ou faca fosse
Hilda Hilst quando então se me amasse
ardendo em nós salgado mar e Olga risse
olhando em nós flechas de fogo se
existisse
por onde quer que eu te cantasse ou Amavisse
Odara - Meu Zeus!
ele cita Olga Savary, minha grande paixão - e a
minha Hilda Hilst, esse cara vai despetalar a gente!
EuGênio Mallarmé -
a lavra da palavra quero
quando for pluma
mesmo sendo espora
felicidade uma palavra
onde a lavra explora
se é saudade dói mas não demora
e sendo fauna linda como a Flora
lua Luanda vem não vá embora
se for poema fogo do desejo
quando for beijo que seja como agora
Odara - Ei
EuGênio, você tem a cópia aí, dessa poesia que você fala de Olga Savary?
EuGênio Mallarmé - tenho,
por quê?
Odara - será
que seria demais te pedir?
EuGênio Mallarmé - claro
que não, é sua!
Dandara - se é
assim, eu também quero!
EuGênio Mallarmé - mas só
tinha aquela que dei para Odara.
Dandara - Está
bem! Onde vai ser o seu próximo recital?
EuGênio Mallarmé - aqui
mesmo no Baruk depois de amanhã, neste mesmo horário.
Dandara -
estaremos aqui, me prometa que vai trazer uma cópia daquela poesia para mim
EuGênio Mallarmé - para
você eu ofereço todas as minhas Juras Secretas que fazem parte do meu próximo
livro.
Odara - Não
diga! eu amo poesia, quando ouço parece
que me transporto para outro universo.
Dandara - eu nem
sei dizer direito o que acontece comigo. só sei que quando ouço, é como se eu
estivesse dançando o Lago dos Cisnes!
EuGênio Mallarmé - vasa sob meus pés um Rio das
Ostras as minhas mãos em conchas passeiam o mangue dos teus seios e provocam o fluxo do teu sangue os caranguejos olham admirados a volúpia dos teus cios quando me entregas o que traz por entre as praias e permites desatar todos os nós do teu umbigo transbordando mar de búzios oceanos - Atlântico pulsar entre dois
corpos que se descobrem peixes - e mergulham profundezas qualquer que seja a hora em que se beijam num pontal em comunhão total com a natureza
Odara - o que te inspira tanto!
Eugênio Mallarmé - viver!
Dandara - não é
possível, não pode ser só isso, tem referências na sua poesia que se fosse
apenas o fato de viver, não teria como criar tantas metáforas.
Odara - e
essas metáforas as vezes entortam nossas
cabeças, nos deixa girando querendo encontrar o rumo para onde você quer nos
levar
Eugênio Mallarmé - mas a
minha única intenção é escrever poesia, não há
a mínima pretensão de provocar nada.
Dandara - Nós
estamos indo para a Casa Amarela, você não quer ir com a gente? aproveitamos e
conversamos mais. E você nos fala mais como é Viver Poesia!
Odara - lá
sempre tem também algumas pessoas assim como nós trans/formada pela poesia
Eugênio Mallarmé - sendo
assim vamos lá. no desenho da estrada que
atravesso tem um corpo adormecido esperando por um beijo. Eu te desenho e você
não vê a geografia corporal em cada traço. Eu te coloco dentro do poema e teu
corpo treme nas entre linhas do desejo. Desenho teus olhos no espelho e você
não vê nas águas o reflexo da alga que brotou no mar sob a luz da madrugada.
(saem de cena com EuGênio entre as duas)
Fulinaíma MultiProjetos
www.centrodeartefulinaima.blogspot.com
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