Quarta
parede
Origem e significado
A origem da expressão é incerta, mas presume-se
que o conceito tenha surgido na Idade Média com a aplicação do Teatro
Saltimbanco, onde os atores atuavam em uma carroça, e assim podiam se deslocar
por outros vilarejos, uma espécie de teatro ambulante, e a peça ocorria
levantando uma lona lateral, criando uma abertura para visão geral do evento. A
aplicação dava-se cada vez que, erguendo esta lona (a quarta parede), o
espectador tinha acesso a imagem da peça encenada, geralmente com até, no
máximo, quatro personagens atuando ao mesmo tempo.
Logo em seguida, pela formação do Teatro
Elizabethano, na côrte da Rainha Elizabeth I (Londres, Inglaterra), onde o
teatro era realizado para a nobreza como forma de distração e era preparada,
muitas vezes, com intuito de se atacar ou criticar, de forma direta atitudes,
comportamentos, da própria nobreza na côrte. Essas críticas nem sempre
mostravam o nome do nobre, mas o fazia de forma satírica, confrontando-os e
questionando-os, no entanto, as cenas eram preparadas, escrachadas, tinha como
objetivo um ataque, mas de forma leve, tão leviana, que acabava por virar
comédia. Todos riam, sabiam que se falava da côrte e seus participantes. Às
vezes, sabiam sobre quem estava sendo satirizado, mas aquela conduta dos
atores, embora muitas vezes com maldade, deixava a crítica um tanto sarcástica,
outras vezes sutil, mas sempre procurando deixar a peça em tom crítico direto,
mas completamente debochada em relação a quem a assistia.
O teatro assume a apresentação como se fosse uma
caixa, surgindo o teatro tradicional como conhecemos e a quarta parede, de
certa forma cai, deixando de existir e dando lugar àquela plateia que assiste
passivamente, quer dizer a plateia evita mexer-se e, supostamente, assiste à
peça sem se deixar envolver emocionalmente com os atores, mas nem sempre
ocorria. Lembremos que algumas pessoas era bufões, comiam durante o espetáculo,
causando um barulho que acabava por desconcentrar, outros com o uso do leque,
outros com movimentos de pernas para chamar a atenção, daí para o ator não se
desconcentrar com tosses, com movimentos corporais da plateia em que se
estabelece a quarta parede, imaginária, tanto para o grupo de atores, quanto
para a plateia, conduzindo o grupo de atores a um estudo e domínio próprio mais
profundo para se condicionar em representar sem ter a influência da plateia ou
minimizando-a e exigindo uma concentração maior durante a encenação, século
XVIII, com as teorias propugnadas por Diderot, quando este aponta:
"Então, caso façais uma composição, ou caso
representeis, pensai no espectador apenas como se este não existisse. Imaginai,
na borda do teatro, uma enorme parede que vos separe da plateia; representai
como se a cortina não se levantasse".[1]
A expressão também é usada em outros mídia, como
cinema, videogames, quadrinhos,televisão e literatura, geralmente para se
referir à divisória entre a ficção e a audiência.
A quarta parede é parte da suspensão de descrença
entre o trabalho fictício e a plateia. A plateia normalmente aceita
passivamente a presença de uma quarta parede sem pensar nela diretamente,
fazendo com que uma encenação seja tomada como um evento real a ser assistido
(teatro tradicional). A presença de uma quarta parede é um dos elementos mais
bem estabelecidos da ficção e levou alguns artistas a voltarem a sua atenção
para ela como efeito dramático. Por exemplo, na peça The Fourth Wall de A.R.
Gurney, quatro personagens lidam com a obsessão da dona de casa, Peggy, por uma
parede em branco na sua casa. Lentamente é desenvolvida uma série de clichês
teatrais, enquanto toda a mobília e a ação em cena vão cada vez mais se
dirigindo à suposta quarta parede.
Derrubando a quarta parede
O ato de derrubar a quarta parede é usado no
cinema, no teatro, na televisão e na arte escrita, e tem origem na teoria do
teatro épico de Bertolt Brecht, que ele desenvolveu a partir e, curiosamente,
para contrastar com a teoria do drama de Constantin Stanislavski. Refere-se a
uma personagem dirigindo a sua atenção para a plateia, ou tomando conhecimento
de que as personagens e ações não são reais. O efeito causado é que a plateia
se lembra de que está vendo ficção e isso pode eliminar a suspensão de
descrença. Muitos artistas usaram esse efeito para incitar a plateia a ver a
ficção sob outro ângulo e assisti-la de forma menos passiva. Brecht estava
ciente de que derrubar a quarta parede iria encorajar a plateia a assistir a
peça de forma mais crítíca - o chamado Efeito de Alienação.
Derrubar a quarta parede de forma súbita é um
recurso bastante usado para um efeito humorístico nonsense, já que tal efeito é
inesperado em ficções narrativas e afins. Alguns acreditam que derrubar a
quarta parede cause um distanciamento da suspensão de descrença a ponto de
contrastar com o humor de uma história. No entanto, quando usada de forma
consistente ao longo da história, é geralmente incorporada ao estado passivo da
plateia.
Essa exploração da familiaridade de uma plateia
com as convenções da ficção é um elemento-chave em muitos trabalhos definidos
como pós-modernistas, que descontroem as regras preestabelecidas da ficção. A
ficção que derruba ou diretamente se refere à quarta parede muitas vezes também
usa outros recursos pós-modernistas, como a metalinguagem (Teatro
Contemporâneo).
O recurso é muito usado no teatro improvisado,
onde a plateia é convidada a interagir com os atores em certos pontos, como
para escolher a resolução de um mistério. Nesse caso, os espectadores são
tratados como testemunhas da ação em andamento, tornando-se "atores"
e atravessando a quarta parede.
A quarta parede também é usada como parte da
narrativa, quando a personagem descobre que faz parte de uma ficção e 'derruba
a quarta parede' para estabelecer um contato com a audiência.[2] Isso ocorre em
filmes como O Último Grande Herói e A Rosa Púrpura do Cairo, onde personagens
saem dos filmes que habitam e espectadores adentram a película; O Show de Truman,
onde o personagem-título percebe que sua vida é uma espécie de reality show
filmado em um gigantesco estúdio; e o livro O Mundo de Sofia, onde os
personagens de um livro sendo escrito percebem seu caráter ficcional e tentam
descobrir como conseguir sua liberdade. Nesse caso, a 'quarta parede' que a
personagem derruba permanece como parte da narrativa em si, e a parede entre a
plateia real e a ficção permanece intacta. Há casos também em que a criatura
encontra o criador, como no período em que Grant Morrison escrevia as histórias
em quadrinhos do Homem Animal. Histórias como essas não derrubam efetivamente a
quarta parede - apenas se referem a esse recurso.
Alguns personagens são notórios por quebrar a
quarta parede, como Deadpool da Marvel Comics, Goku no fim de cada episódio de
Dragon Ball Z (Majin Boo e Gohan também fizeram), Pinkie Pie de My Little Pony:
A Amizade é Mágica [3] , Frank Underwood, de House of Cards e a série de games
Metal Gear: Solid (Onde alguns personagens olhavam para a tela e interagiam com
o jogador).
Referências
BORIE, Monique; ROUGEMONT, Martine de; SCHERER,
Jacques. Estética teatral: textos de Platão a Bertolt Brecht, pg. 167. Tradução
de Helena Barbas. 2ª edição, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004]
NOVAS POSSIBILIDADES EM METALINGUAGEM
The Most Fourth Wall-Breaking Moments in
Television History
Fulinaíma MultiProjetos
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