a hipocrisia aqui é muita
liberdade muito pouca
com meus dentes
língua/navalha
vou rasgar a tua roupa
para esse poema bomba
explodir na tua boca
o
obscuro objeto do desejo
de pedra dourada ficaram portas
janelas de entradas e saídas
a sedução de dois olhos
em minha carne proibida
nem tanto pelo o que falo
nem tanto pelo que sinto
a vodka a cereja o conhac
o abismo o labirinto
de pedra dourada
ficou um café orgânico
no teu sertão encantada
numa manhã de domingo
do outro lado da trilha
com tanta veraCidade
que me esqueci da idade
e me apaixonei por tua filha
de pedra dourada ficaram
olhos acesos do outro lado a janela
o espelho as contas de vidro
o jogo da sedução a maravilha
os passeios nas cachoeiras
os banhos de bar o carnaval
aquela delícia louca
o batom na minha língua
o cheiro das flores do mal
meu bem-me-quer a tua boca
bandeira nacional
com palavras
sons
imagens
versos
inauguro o monumento
no planalto central
araçá azul
domingo no parque
vapor barato
mal secreto
pérola negra
construção
cabeça Gothan City
poema concreto
arte poesia teatro cinema pós poema
terra em transe tropicália grande sertão
veredas vidas secas
memórias do cárcere
parangolés
hélio oiticica
artur bispo do rosário
bacurau
seja herói seja marginal
pudesse eu divagar pelos teus poros
bosque do teu reino entre teus pelos
mergulhar contigo o mar da fonte
atravessar da carne a pele a ponte
penetrar no orgasmo dos teus selos
pudesse eu cavalgar por tuas crinas
no dorso cavalar onde deflora
deixando assim então de ser menina
e me tornar mulher por toda sina
no inferno céu da tua hora
tragédia infame
empresto minha voz aos deserdados os desnutridos
os que não tem pela manhã café com pão
e sobre a mesa no almoço nem mesa
nem carne seca com farinha
espinha de peixe na garganta
é o que sobrou pra curuminha
empresto meu corpo minha voz
a esses personagens
os que tem sede os que tem fome
ou os que morrem assassinados
nos guetos nos campos nas cidades
por balas de fuzil está fudido o brasil
entregue as traças então me resta
exterminar o nome o sobrenome o apelido
do causador dessa desgraça
Artur Gomes
O Poeta Enquanto Coisa
Editora Penalux – 2020
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Fulinaíma MultiProjetos
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